Projeto Arqueologia Sankofa encerra ciclo de oficinas e fortalece identidade quilombola no Baixo Amazonas
08/12/2025
(Foto: Reprodução) Oficina de encerramento do projeto "Arqueologia Sankofa"
Divulgação
O projeto “Arqueologia Sankofa: Meu Quilombo, Saberes Ancestrais!”, aprovado pela Lei Aldir Blanc do Governo do Estado, realizou no sábado (6) sua última oficina no Quilombo Saracura, na região de várzea de Sanntarém, oeste do Oará. A atividade concluiu o percurso iniciado em setembro nos quilombos Murumurutuba e João Pereira (JP), ambos no planalto, reunindo moradores em ações voltadas à valorização da ancestralidade e ao fortalecimento da identidade quilombola na região.
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Coordenado pelas arqueólogas Elaine Pinto e Rafaela Pinto, o projeto estruturou um percurso formativo que integrou arqueologia quilombola, saberes tradicionais, memória dos mais velhos e práticas culturais.
Em todos os três territórios foram realizadas oficinas sobre arqueologia e diáspora africana, história e formação dos quilombos, escutas com anciãos, rodas de conversa, além da oficina de bonecas africanas, que trabalhou identidade, ancestralidade e infância preta. Todas as etapas contaram ainda com o trabalho de uma profissional de acessibilidade, ampliando a participação de toda a comunidade.
Para Elaine Pinto, quilombola de Murumurutuba e coordenadora geral do projeto, encerrar o ciclo simboliza um processo coletivo profundo.
Projeto Sankofa contemplou comunidades quilombolas
“As oficinas valorizaram os saberes locais, a sabedoria dos mais velhos e mostraram como a arqueologia fortalece o território. Nossos quilombos enfrentam muitos desafios, mas seguimos existindo e reexistindo. O Sankofa foi feito no quilombo e pelo quilombo, e isso faz toda a diferença”, enfatizou.
Durante a última oficina, a relação entre passado e futuro ganhou força com a fala de Seu Adailson Oliveira de Sousa, 81 anos, morador de Saracura.
“Quem nasce hoje não sabe do passado. Só sabe do passado quem nasceu no passado. Não existe presente sem passado. Esse encontro despertou muito da nossa história. Mesmo com desafios, nosso grupo é forte, especialmente o de mulheres e nossa associação, que mantém a comunidade unida”, destacou.
Para Jucimara Oliveira de Jesus, aluna das oficinas e liderança do Grupo de Mulheres Meninas do Quilombo, o Sankofa representou um movimento de resgate e continuidade.
“Esses dias foram de resgate da memória. Aprendemos com os mais velhos para levar adiante nossa história. É nossa resiliência, nossa ancestralidade, nossa memória viva”, disse.
Participantes de oficina mostram resultado dos trabalhos realizados no projeto Sankofa
Divulgação
Entre todas as atividades realizadas nos quilombos do planalto e da várzea, a oficina de bonecas africanas foi a que mais mobilizou participantes. Ministrada por Rafaela Pinto, ela ultrapassou a técnica de costura para abrir espaço para conversas profundas sobre identidade, ancestralidade e pertencimento.
“As bonecas africanas trazem identidade. Em cada quilombo, essa oficina despertou memórias, emoções e histórias. A arqueologia nos ajuda a compreender os processos de ocupação dos quilombos. Saracura, por ser várzea, também nos trouxe novos olhares e reflexões”, refletiu.
Próximos passos
Com o encerramento das oficinas, o projeto segue agora para sua etapa final, prevista para 2026. As devolutivas incluem o lançamento de um mini documentário produzido ao longo das atividades, além da distribuição de aproximadamente 200 exemplares de uma cartilha acessível de educação patrimonial, que ficará disponível nos três territórios atendidos.
A equipe também pretende articular novos financiamentos para expandir o projeto a outros quilombos do Baixo Amazonas, ampliando o impacto e fortalecendo ainda mais os processos de memória, identidade e proteção territorial. Tudo pode ser acompanhado pelo Instagram: @arqueoquilombo .
A execução das atividades contou com o apoio da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), da Associação Quilombola de Murumurutuba (AQMUS), da Associação Quilombola de João Pereira (JP), da Associação Quilombola de Saracura, além das lideranças, moradores e anciãos que fortaleceram cada etapa.
Encerrado neste sábado, o Arqueologia Sankofa deixa um legado de memória, pertencimento e fortalecimento territorial, reafirmando que o futuro dos quilombos se constrói com as raízes do passado e a força coletiva do presente.
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