Desmatamento cai no Brasil em 2024, mas APA da Chapada do Araripe segue entre as mais afetadas

  • 03/12/2025
(Foto: Reprodução)
Ministério Público desenvolve projeto para maior fiscalização na APA Araripe O desmatamento no Brasil diminuiu mais de 30% em 2024 em comparação com 2023, totalizando 1,24 milhão de hectares, segundo o Relatório Anual de Desmatamento (RAD 2024) do MapBiomas. Apesar da redução nacional, a Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada do Araripe, no Ceará, não acompanhou a tendência: foram 5.965 hectares desmatados, praticamente o mesmo número do ano anterior (5.900 hectares). A unidade ocupa o 3º lugar entre as áreas de conservação mais desmatadas do país. "Quando a gente analisa os dados dos últimos cinco anos, a gente mal tá conseguindo frear esse processo de degradação desse meio ambiente", afirma o chefe do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) ICMBio Araripe, Carlos Augusto Pinheiro. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp A APA Araripe é uma unidade de conservação federal de uso sustentável, onde são permitidas propriedades privadas e atividades agrícolas e industriais. Ambientalistas alertam para os riscos à biodiversidade e aos recursos hídricos da região do Cariri. "A chapada tem um lado mais alto voltado aqui para Ceará. Um grande paredão que pega os ventos do oceano carregados de umidade. Isso faz com que chova mais nessa área. No meio do Sertão nós temos uma ilha de umidade, um brejo de altitude fenomenal e de grande diversidade ambiental e climática. Isso garante chuva e conforto térmico para outras regiões", explica o ambientalista Basílio Silva Neto. Incêndio atinge área de preservação da Chapada do Araripe Divulgação Além do desmatamento, as queimadas são outro desafio. A cada ano, os incêndios têm preocupado mais. De acordo com o Boletim do Fogo, do Corpo de Bombeiros Militares do Ceará, o Crato registrou 68 ocorrências de incêndio em vegetação em novembro de 2025, ficando em 3º lugar no estado. Comparados com dados de todo o ano de 2024, os números já foram superados em Juazeiro do Norte e Crato. Em 2025, foram registrados até novembro 843 incêndios em vegetação. Em 2024, foram 776 ocorrências. "Temos contextos como a umidade baixa do ar, as ondas de calor que potencializam essa umidade do ar, e associada a isso a prática de limpar a terra através do fogo. E além disso, o descuido das pessoas, a falta de campanhas educativas e que as pessoas saibam conduzir os seus terrenos que estão sem uso. Além da contaminação através da fumaça, tem o aumento da temperatura e todo aquele ambiente passa a ter de 2 a 3 graus acima da média. Cabe ao Ministério Público fazer uma fiscalização dos incêndios, os gestores acompanhar a questão da educação ambiental nessa época do ano para que se evite tais práticas", explica o ambientalista. Meliponário na Chapada do Araripe estimula o cuidado com a natureza LEIA TAMBÉM: Chapada do Araripe deve perder o equilíbrio ambiental com o aumento do desmatamento, dizem especialistas Primeira floresta nacional do Brasil, Flona Araripe completa 79 anos de criação, no Ceará Igor de Souza Lacerda e a esposa Ana Carla Lacerda são criadores de abelhas no Crato. O segundo semestre do ano é o período em que a família fica mais apreensiva. É que com o fogo e a fumaça vem também a perda da produção de mel. "O fogo tanto destrói as árvores nativas que fornecem ninhos para as abelhas como destrói também as flores que fornecem o néctar. A longo prazo é um prejuízo enorme. Eu perdi alguns enxames porque faltou alimento na colônia, o enxame para a gente tem um valor econômico significativo porque essas abelhas sem ferrão, tanto o mel, como também o enxame, tem valor comercial bem mais elevado", diz Igor. "Quando o incêndio é mais próximo eu imediatamente eu já vou combater. Peço para minha mulher ligar para os corpos de Bombeiros e vou fazer a minha parte. Eu faço o que eu posso e os meus vizinhos aqui também. A gente às vezes não consegue sair de casa tranquilo. Eu vou até mais ou menos um quilômetro de distância, que tem uma boa visibilidade da encosta da chapada, olho para ver se tem alguma fumaça. Eu sempre faço isso quando eu vou passar um pouco mais de tempo distante para eu me sentir bem e poder sair. É um momento do ano muito chato de ficar aqui", relata Igor. A família busca viver de forma sustentável e também desenvolve um trabalho de educação ambiental na região com visitas guiadas para estudantes. O meliponário fica de portas abertas para que os estudantes possam conhecer mais sobre a preservação das abelhas nativas sem ferrão, sobre as plantas nativas e como as pessoas podem equilibrar o trabalho e a vida com a natureza. Para Ana Carla, é preciso mais conscientização sobre o cuidado com a natureza. Vamos cuidar mais da natureza, das abelhas, plantar mais árvores, ao invés de estar queimando. Isso é uma prática tão desnecessária e tão arcaica. Hoje em dia a gente tem tantos recursos e conhecimento sobre agrofloresta, permacultura, o conhecimento ancestral de plantio. Então vamos aprender, estudar e conhecer. Queimar terra para plantar é uma prática totalmente equivocada". Parcerias na fiscalização Ministério Público desenvolve projeto de fiscalização na Chapada do Araripe. Para combater os desmatamentos e incêndios na APA Araripe, o ICMBio tem contado com apoio de diferentes órgãos. Entre eles, a Polícia Federal, que em outubro realizou a Operação Woodtrack no sul do Ceará. A ação ocorreu em Crato, Barbalha, Brejo Santo e Araripe, com foco na APA da Chapada do Araripe. Foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão em locais com indícios de desmatamento ilegal, além de serrarias e madeireiras já investigadas por irregularidades ambientais. Houve autuações, apreensão de material florestal e embargo de atividades. "A gente tem feito um trabalho em coordenação com as equipes do Ibama e ICMBio para combater de forma tanto preventiva quanto repressiva esses crimes ambientais em unidades de conservação federal. Aqui no Ceará foram identificados alguns pontos de alerta de desmatamento. A fiscalização é essencial para identificar e quantificar o prejuízo que foi ocasionado", explica Marcelo Costa, delegado da Polícia Federal. O Ministério Público também atua na região com o projeto APA Regular, que busca frear o desmatamento para fins agrícolas e reforçar a importância da unidade de conservação no combate às mudanças climáticas. O projeto idealizado pela Promotoria de Justiça do Crato mapeou os conselhos municipais de meio ambiente dos 15 municípios que compõem a APA Araripe no Ceará. Entre eles, Missão Velha, Penaforte e Santana do Cariri, que possuem conselhos previstos em lei, mas que estão inativos. "A gente percebeu que existia uma ineficácia fiscalizatória dentro do território, porque apesar da atuação do ICMBio e de outros órgãos de fiscalização ambiental, nós não temos aparato humano suficiente para alcançar todo o território. Na promotoria do Crato existe uma aproximação com esses órgãos, mas nos municípios mais distantes percebemos a necessidade de tentar padronizar a fiscalização por parte do Ministério Público. O projeto tem esse objetivo principal de fazer essa fiscalização, otimizando e colocando um setor como protagonista. É através do Conselho Municipal que tem participação popular que a gente aproxima quem vive, quem sofre as consequências da invasão do território", explica o promotor de Justiça Thiago Marques. Os municípios que compõem a APA Araripe no Ceará possuem mais de 493 mil habitantes. Com as audiências públicas realizadas para integrar os órgãos e também para conscientizar a população, os resultados têm aparecido. Como a prisão de um suspeito de atear fogo nas proximidades da Floresta Nacional do Araripe. "Nós fizemos uma grande audiência pública sobre as queimadas que se intensificam nesse segundo semestre. Depois dessa audiência tivemos um incêndio que um popular flagrou através de câmeras de monitoramento. Foi ele quem avisou os órgãos competentes. Conseguimos efetuar a prisão desse indivíduo que cometeu o crime nas proximidades da Floresta Nacional do Araripe. O que eu percebo é que onde a gente conseguiu que o Conselho Municipal do meio ambiente voltasse a funcionar, a gente teve uma melhora na comunicação desses órgãos que atuam na fiscalização", afirma o promotor de Justiça. "A gente discute todas essas problemáticas e busca as soluções. Cada um consegue desenvolver seu papel e o Ministério Público aponta as necessidades, melhorias e cobra aos órgãos que desenvolvam melhor o seu papel neste cenário", afirma o chefe do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) ICMBio Araripe, Carlos Augusto Pinheiro. Plano de Manejo: urgência e esperança Ambientalista alerta para falta de preservação da APA da Chapada do Araripe. Outro ponto crítico é a ausência da aprovação de um plano de manejo para a APA. Segundo o ambientalista Basílio Silva Neto, “sem esse plano, os produtores não têm diretrizes claras para atuar de forma sustentável”. "Com o plano de manejo, o pequeno, médio e grande proprietário vai ter condição e conhecimento para desenvolver sua atividade produtiva de forma correta, garantindo o desenvolvimento sustentável. A gente necessita da aprovação desse plano de manejo para que a gente consiga gerir toda essa área. É um pacto sobre a água, sobre a cobertura vegetal, o solo, são normativas que devem ser seguidas, são as licenças ambientais que os produtores devem ter para garantir a conservação da APA. O uso racional da área de proteção, garantir que as próximas gerações usem esse lindo patrimônio que nós temos que é a chapada do Araripe", finaliza o ambientalista Basílio Silva Neto. Em nota, o ICMBio informou que o plano de manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) Chapada do Araripe encontra-se em fase de consolidação final do documento. E que a elaboração teve ampla participação de representantes de instituições públicas, sociedade civil e comunidades locais, permitindo ampla discussão sobre os usos do território, a conservação dos recursos naturais e o zoneamento da unidade. Chapada, fonte de pesquisas A Chapada do Araripe possui grande relevância para a biodiversidade brasileira. É berço do soldadinho-do-araripe, espécie encontrada somente nesta região. Também possui uma vasta gama de espécies vegetais que estão sendo utilizadas em pesquisas. Caso do cambuí, espécie frutífera nativa da Chapada do Araripe que pode ser uma aliada na luta contra superbactérias, de acordo com pesquisas recentes da UFPE, UFCA e URCA. A pesquisa investigou o potencial do óleo do cambuí no combate a superbactérias de um grupo chamado Enterobacteriaceae. Encontradas no solo e na água, essas bactérias podem infectar humanos e outros animais. No Cariri, o fruto é usado na medicina popular para tratar inflamações, cólicas, problemas bucais e outros distúrbios do trato digestório, além de atuar na cicatrização de pequenas feridas. "Há plantas que nós podemos estar perdendo pelo desmatamento através da agroindústria, que podem ter um potencial fabuloso. O cambuí, que a gente usa para fazer doce, vinho, pode servir para combater superbactérias, ou seja, o que os antibióticos químicos não são capazes de fazer uma planta daqui pode fazer", afirma o ambientalista Basílio Neto. Assista aos vídeos mais vistos do Ceará

FONTE: https://g1.globo.com/ce/ceara/cariri/noticia/2025/12/03/desmatamento-cai-no-brasil-em-2024-mas-apa-da-chapada-do-araripe-segue-entre-as-mais-afetadas.ghtml


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