Cenário de filmes e novelas, Dunas do Rosado são ameaçadas por 'floresta de algarobas'; entenda

  • 06/12/2025
(Foto: Reprodução)
Espécie invasora ameaça as Dunas do Rosado e pode alterar de vez paisagem do litoral do RN Uma paisagem que lembra um deserto e que já foi cenário de várias produções de filmes, séries e novelas, as Dunas do Rosado correm risco de ser completamente desfiguradas, segundo um estudo publicado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A ameaça é causada pela expansão das algarobas, uma espécie de árvore invasora que tem causado impactos no local. O problema foi detectado em uma pesquisa publicada em novembro na revista científica Geographies, que analisou imagens de satélite nos últimos 20 anos. Os dados mostram que as algarobas ocupavam uma área de 435 hectares em 2024, um número mais de seis vezes superior ao registrado em 2004, quando havia 70 hectares ocupados. 📳 Clique aqui para seguir o canal do g1 RN no WhatsApp A Área de Proteção Ambiental Dunas do Rosado (APADR) é gerida pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (Idema), órgão ambiental do estado, e fica localizada entre os municípios de Porto do Mangue e Areia Branca, na Costa Branca potiguar. Ela forma um cenário único onde o sertão se liga ao litoral. Conforme os pesquisadores, o avanço da "floresta de algarobas" sobre áreas de Caatinga e restingas tem reduzido a biodiversidade nativa e a conexão natural entre a praia e o campo de dunas. "Esse bosque enorme de algarobas barra o fluxo de areia da praia para a duna. Uma duna que não recebe sedimento vai baixando de tamanho, até chegar, no futuro, a ficar totalmente descaracterizada. O que está acontecendo lá nas Dunas do Rosado é isso. A duna está se afastando para o interior e ficando cada vez mais longe da praia", afirma o professor Marco Túlio Mendonça Diniz, do Departamento de Geografia do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres/UFRN), em Caicó. Expansão das algarobas ameaça a APA Dunas do Rosado no RN Marco Túlio/Cedida "Outro impacto grave na área é que a vegetação natural, a vegetação de restinga é suprimida pela algaroba. A algaroba tem toxinas que matam as outras espécies, então a vegetação nativa e outras espécies da Caatinga vão morrendo", diz. Além da flora, a fauna local também é afetada. Animais como bodes, carneiros, cavalos e jumentos, comuns na região, consomem a vagem da algaroba, que, em grandes quantidades, pode ser fatal. "Os criadores estão tendo que prender os animais. Quando comem demais, eles incham e morrem”, relata. Apesar dos relatos que dos criadores aos pesquisadores, não há dados oficiais sobre morte de animais devido ao consumo de algarobas. Infográfico - algarobas invadem Dunas do Rosado Arte/g1 Espécie invasora Segundo os pesquisadores, a algaroba é originária de regiões áridas da América e foi introduzida no semiárido brasileiro décadas atrás por ser adaptável ao clima local, produzir sombra durante todo o ano e poder ser usada na alimentação dos animais. A introdução foi feita por agrônomos com apoio do Ministério da Agricultura, mas a planta acabou se espalhando pelo sertão de forma desordenada. Além de suprimir outras vegetações nativas, a espécie também consome muita água das reservas hídricas, causando diminuição de oferta do líquido tão precioso na região. Nas Dunas do Rosado, o estudo aponta um processo de “reverdecimento indesejado” na área de proteção ambiental, o que compromete a integridade ecológica, o geoturismo e o patrimônio natural. Os pesquisadores acreditam que as árvores se espalharam na região a partir das vilas, onde foram plantadas por moradores para gerar sombra. O vento e os animais ruminantes que comiam da vagem dela teriam ajudado na disseminação das sementes. A pesquisa reforça a necessidade urgente de políticas públicas para controle da invasão, manejo sustentável, restauração ecológica e monitoramento contínuo do território. Pesquisa analisou imagens de satélite na APA das Dunas do Rosado Reprodução Presença nas telas O avanço da algaroba, segundo os pesquisadores, pode comprometer até mesmo o potencial da área na produção de audiovisual. Muitas produções já usaram a área para simular desertos. Cenas das novelas "O Clone" e "Flor do Caribe", da TV Globo, além do filme "Maria, Mãe do Filho de Deus" e a série "3%" foram gravadas no local. Segundo Marco Túlio, as plantas já aparecem até mesmo nas lagoas interdunares — depressões entre as dunas onde se acumula água doce, o que facilita a expansão da espécie em áreas antes preservadas. “Se essas árvores começarem a surgir no meio do campo de dunas, as produções que dependem daquela estética desértica podem deixar de ocorrer ali”, diz o pesquisador. 'Bosque de algarobas' impede areia da praia de chegar às Dunas do Rosado, dizem pesquisadores Marco Túlio/Cedida Manejo urgente Os pesquisadores recomendam que o Idema adote medidas de manejo para controlar a expansão das algarobas. Gestora da área de proteção há dois meses, Jaciana Barbosa ressalta que o órgão apoia projetos e iniciativas de universidades e instituições locais sobre o manejo das algarobas. "Nós iremos conversar com os professores e pesquisadores que já têm projetos e ver como o Idema pode ser parceiro na execução. Também [vamos] chamar os municípios para ver como podem ajudar no manejo", explicou a gestora. Uma dos projetos é coordenado pelo também professor da UFRN Diógenes Costa, do Departamento de Geografia da UFRN em Natal. Chefe do Setor de Estudos Ambientais do Museu Câmara Cascudo e coordenador do Observatório das Unidades de Conservação do RN, ele afirma que a instituição já tem um acordo com a prefeitura de Porto do Mangue para realizar a substituição das algarobas por árvores nativas, como juazeiro, quixabeira e carnaúba. "Nossa ideia é seguir os critérios de sucessão ecológica, em que, para cada quatro árvores nativas plantadas, uma invasora será tirada", explicou. "A expectativa é que na próxima estação chuvosa possamos plantar de 500 a mil mudas". As mudas já estão em produção. Porém, os pesquisadores explicam que as algarobas só podem ser retiradas após as espécies nativas alcançarem maturidade. Não há prazo para isso acontecer. Outra iniciativa é o projeto Pesqueiro Sustentável, desenvolvido pelo estudante Gabriel Melo, que mora na comunidade local. A solução inovadora usa a madeira de algaroba na montagem de estruturas utilizadas na pesca de lagosta. A iniciativa prevê não apenas o uso da madeira para a pesca local, mas a produção e venda dos pesqueiros para outras comunidades litorâneas, dando destino à madeira cortada. De acordo com os pesquisadores, embora sejam urgentes as medidas que precisam ser tomadas para garantir o futuro das Dunas do Rosado, ainda dá tempo de salvar esse patrimônio natural. Dunas do Rosado na Costa Branca potiguar Marco Túlio/Cedida Veja os vídeos mais assistidos no g1 RN

FONTE: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2025/12/06/cenario-de-filmes-e-novelas-dunas-do-rosado-sao-ameacadas-por-floresta-de-algarobas-entenda.ghtml


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