Adolescente resgatada após ser torturada e mantida presa pela mãe e o padrasto diz que foi ‘do inferno ao paraíso’
22/11/2025
(Foto: Reprodução) Adolescente mantida em cárcere por dois anos relata rotina de tortura
A adolescente que foi resgatada após ser mantida em cárcere pelo trisal, que envolvia a mãe, o padrasto e uma madrasta, afirmou que foi do "inferno ao paraíso" após voltar a viver com o pai. Em uma entrevista exclusiva à TV Anhanguera, ela contou que estava grata por voltar a dormir em uma cama e ter ganhado um celular após dois anos sem.
"Já tinha aqui meu quarto, também fui bem acolhida, com minhas cobertinhas, dormi numa cama. Tive uma noite maravilhosa. E quando acordei já tive até a notícia de que eu ganhei um celular, depois de ficar dois anos sem", afirmou a adolescente.
Como os nomes dos suspeitos não foram divulgados, o g1 não conseguiu localizar a defesa deles.
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A adolescente conseguiu fugir da casa em que era mantida em cárcere pela mãe na madrugada de sexta-feira (21), em Nova Veneza. O pai, que não quis ser identificado, contou que tentava contato com a filha desde a separação da mãe da menina, há dois anos, mas sem sucesso.
Ele afirmou que conseguia conversar com a ex-companheira, e que ela apenas dizia que a filha estava bem, mas não deixava o pai falar com ela. Ele contou que ficou surpreso após descobrir a situação da adolescente. "Meu Deus, eu fiquei horrorizado. Não deixava a menina estudar, não saía nem pra fora", declarou.
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Após ser resgatada, a menina contou que foi acolhida pela família do pai e que, para ela, a história teve um final feliz.
"Pra mim o final foi maravilhoso. É como se eu tivesse saído, assim.... Do inferno pro paraíso. Eu cheguei aqui e fui muito bem-acolhida pela família", pontuou.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que o caso continuava sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) sob sigilo até a última atualização desta reportagem.
Violência
A conselheira tutelar Aline Pinheiro destacou que as agressões contra a adolescente eram recorrentes, e que aconteciam como uma forma de "punição" caso a jovem não realizasse as tarefas impostas da forma que os suspeitos queriam. Segundo ela, essas punições aconteciam de formas variadas.
"A punição podia ser não tomar banho, ficar a noite toda de joelhos. Ela ficava três dias ou mais sem se alimentar", contou Aline.
No Boletim de Ocorrência do caso, é dito que a adolescente narrou aos policiais que chegou a ser agredida com fios de energia, pedaços de mandeira e canos de PVC, além de ter sofrido queimaduras provocadas por cigarro.
Ela também afirmou que sofreu agressões psicológicas, como os agressores mentindo sobre a morte da avó paterna dela e a induzindo a aceitar que merecia a violência por ser "uma pessoa ruim".
Imagens encontradas pelas polícia no celular da mãe da jovem, mostram as marcas da violência, como vergões e cicatrizes espalhados pelo corpo da menina (veja abaixo).
Adolescente mantida em cárcere privado em Goiás sofria tortura e tinha marcas das agressões pelo corpo
Reprodução/TV Anhanguera
Ainda segundo o documento, a adolescente contou que entre os castigos também estava ficar sem tomar banho e comida. Além disso, o BO destacou que ela não conseguiu informar aos policiais a última vez que havia tido uma refeição completa, nem quando tinha comido uma fruta pela última vez em dois anos.
Resgate
Segundo apurado pela TV Anhanguera, a adolescente conseguiu fugir após encontrar uma escada deixada próximo ao muro da casa da mãe. Depois de escalar o muro e passar por cima de uma serpentina, a menina seguiu por uma estrada de terra em direção a um ponto de ônibus.
Por volta das 6h, ela conseguiu encontrar a dona de casa Albanita Aires, e pediu ajuda. Segundo Albanita, ela ficou assustada com a forma como a menina estava debilitada e magra.
A mulher contou que a menina pediu que ela ligasse para o pai dela. Enquanto isso, Albanita explicou que ofereceu comida à menina, e que chegou a se alimentar três vezes.
"A quantidade que eu desse, o tanto que eu desse ela iria comer. Tanto que eu servi [comida] três vezes para ela, e na terceira vez eu pensei que ela podia passar mal", destacou a mulher.
Ainda à Albanita, a adolescente também contou que o padrasto chegou a tentar beijar ela na boca quando a menina tinha apenas catorze anos, e disse que queria casar e ter filhos com ela, algo que a deixou bastante assustada. Ela também teria dito que a mãe presenciou a cena, mas não reagiu.
A adolescente passou por exames do Instituto Médico Legal e está sob os cuidados do pai. E, de acordo com o que foi apurado pela TV Anhanguera, o trisal suspeito do crime foi preso em flagrante.
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